Se nossa existência tivesse um nome, o sobrenome certamente
seria mudança. Heráclito, filósofo grego e pai da dialética, disse: “Nada há de
permanente exceto a mudança”. Se para você essa afirmação está mais para uma
sensação, creio então que em muito pouco tempo se tornará uma certeza, mesmo crendo
na relatividade dela, pois essa mesma certeza sofrerá mudanças e assim, não será
mais ela mesma. Não é como nos sentimos? Mudando a cada novo dia?
Na sociedade moderna a velocidade é a mola propulsora de
todas as transformações e aquela que nos leva a agirmos, muitas vezes, como
nossos ancestrais, movidos apenas pelo instinto de preservação deixando tudo ao
nosso entorno menos importante, supérfluo tornando-nos seres individualistas. À
margem de tudo aquilo que essa “sociedade veloz” impõe como prioritário temos
tantas coisas, inclusive nossos atos, aqueles mesmos que deveriam nos
diferenciar das outras espécies.
Somos “animais” sociais, nossa essência é a da convivência,
mas podemos dizer com tranquilidade que hoje vivemos com o outro? Sabemos quem
é ou nos importamos com ele? Atingimos a marca de sete bilhões de pessoas
vivendo no planeta; pergunto: quem é esse tal de outro mesmo? Ele pode ser
tanta gente, pode ser alguém que não conhecemos, nos encontramos ou sequer que
venhamos a encontrar. Mas devemos nos preocupar com ele por uma simples razão,
temos que conviver com “ele”.
Hoje, com uma pitada de exagero, nosso melhor amigo é aquele
telefone esperto que faz tudo. Chegamos a lançar desafios com o objetivo das
pessoas ficarem um determinado tempo sem usar a tecnologia - foi notícia em um
portal da internet - mas devo admitir, é complicado vivermos sem ela. É, nosso
modo de vida mudou! Na era do conhecimento, a tecnologia tem papel fundamental
nos avanços da humanidade, entretanto, por outro lado, se não voltarmos nossa
atenção a todo o conteúdo desse pacote e às letras miúdas desse contrato,
corremos o risco de “mudarmos” cada vez mais, para bem distante daquilo que realmente
somos.
Se nos aflige sentir tais coisas sobre nosso atual modo de
vida, o que nos resta? Sentar e ver onde e como estaremos vivendo daqui a dez
anos? Precisamos tentar, nos engajar no propósito de mudar essas relações. A
antropóloga Norte-Americana Margaret Mead disse: “Nunca duvide de que um
pequeno grupo de cidadãos conscientes e engajados consiga mudar o mundo. Na
verdade, essa é a única via que conseguiu produzir mudanças até agora”.
Sim, nós podemos! O desejo de mudar nasce dentro da gente, esse
é um dos grandes poderes que temos. Outro poder, o de acreditar nos torna capazes
de fazermos acontecer além de nos fortalecer e nos manter firmes na busca das
mudanças que queremos. Como disse Gandhi, “Devemos ser a mudança que queremos
ver no mundo”.
Para passarmos de uma determinada situação social para outra
melhor é necessário que as desejadas mudanças comecem em cada um de nós
expandindo-se para nossa família, nossos vizinhos e assim de forma espiral para
os demais elos de nossas relações.
A cultura de paz é um processo norteado pelo uso e fortalecimento
das relações, do diálogo, da confiança e do respeito, dando-nos nova forma de
pensar, fazer e viver. Fortalece as relações porque precisamos conviver, e o
convívio nada mais é do que o viver no mesmo lugar com outra pessoa. Fortalece
o diálogo, pois necessitamos nos comunicar para sermos compreendidos e
compreender o outro, sendo este o mediador de conflitos e de superação dos
problemas advindos das relações humanas, fazendo surgir novos espaços para a
troca de experiências e compartilhamento dos conhecimentos acumulados por cada
um de nós, gerando assim, novas competências aos envolvidos no processo.
Nas escolas, a cultura de paz tem espaço privilegiado, pois, alinhando-se
às propostas pedagógicas fará de cada uma delas polos irradiadores das mudanças
que desejamos ver no mundo.
“Joaquim, pergunta ao seu pai Henrique: Você precisa deixar a
torneira aberta enquanto se barbeia? Na aula de ciências a professora me disse
que está faltando água em muitas partes do mundo e que há mais de 1 bilhão de
pessoas em dificuldades por falta de água doce. Ela também disse que um banho
demorado gasta 95 a 180 litros de água, e que escovar os dentes com a torneira
aberta consome 25 litros. Quanto você já gastou hoje, hein pai?” A história mostra como a escola teve um papel
fundamental para que Joaquim confrontasse os hábitos do pai demonstrando novos
conceitos, habilidades e valores, tornando-se capaz de pensar nos outros e não
somente, em suas necessidades individuais.
Esses outros para os quais estão voltados os olhares do
Joaquim têm maneiras peculiares de entender, olhar e estar no planeta, muitas
vezes diferente das dele e está aí, na diversidade, a possibilidade de
crescimento pessoal, de mudarmos do modelo mental enraizado na sociedade de
individualismo para um modelo de cultura colaborativa. Trata-se de propormos a
nós mesmos, novos hábitos comportamentais e de nos colocarmos no mundo de forma
diferente.
Mudar, apesar de fazer parte de nossa existência, não é uma
tarefa fácil, mas se continuarmos parados, sem pensarmos ou agirmos, estaremos
indo contra tudo que nos faz diferentes. Que tal acreditarmos e vivermos a cada novo dia
buscando um melhor desenvolvimento como pessoas humanas, seres sociais e que
acreditam na cultura de paz.
Nós podemos, sim!
Prof. Luis Fernando Bronzatto é Licenciado em Educação
Física, Pedagogo e Diretor do Colégio Luiza de Marillac – Santana – São Paulo.
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