sábado, 29 de setembro de 2012

Língua respeitada pela inclusão?

Somos todos iguais? Estamos incluídos de verdade no mundo? Por que somos incluídos? Segundo divulgado pela Discovery , “todos somos iguais e na realidade, as diferentes raças humanas se tornam algo superficial já que todos nós viemos do mesmo lugar e possuímos um laço familiar com uma mulher. A razão pela qual nos vemos diferentes uns dos outros se deve às diferenças ambientais e à mudança de nossa pele e cultura no decorrer dos anos... contudo, somos todos iguais”. Como estamos em época de mudança principalmente, no âmbito da educação e pensando na legislação vigente, sabemos que a educação é para todos. A discussão e a implementação da política de inclusão na área educacional têm se intensificado e representam a obrigatoriedade de uma escola inclusiva. Essa política se preocupa como o acesso e permanência do aluno com necessidade educacional especial dentro da escola com outros alunos. Sabemos que há diferença entre Inclusão Social e Educação inclusiva. Segundo consta na Wikipédia, “a inclusão social é um conjunto de meios e ações que combatem a exclusão aos benefícios da vida em sociedade provocada pela falta de classe social, origem geográfica, educação, idade, existência de deficiência ou preconceitos raciais, oferecendo aos mais necessitados oportunidades de acesso aos bens e serviços, dentro de um sistema que beneficie a todos e não apenas aos mais favorecidos no sistema meritocrático em que vivemos”. Já a educação inclusiva é um processo em que se amplia a participação e acesso ao currículo de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Infelizmente temos constatado que a maioria das escolas ainda não está preparada para receber todos os alunos com suas necessidades específicas, principalmente os Surdos, por serem sujeitos que têm sua própria língua, conhecida como LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, oficializada como língua oficial do Brasil, pela lei nº 10.436, regulamentada no dia 24 de abril de 2002. Este ano, a Comunidade Surda comemora dez anos da promulgação da lei que oficializou a LIBRAS como língua oficial do Brasil. Acreditamos que para terem um melhor desenvolvimento nos anos iniciais de escolarização, os Surdos deveriam começar pela escola bilíngue para Surdos, onde podem adquirir LIBRAS como sua primeira língua e português como segunda na modalidade escrita. Assim, os Surdos conseguem se adaptar à educação inclusiva com a presença de um Tradutor Intérprete de LIBRAS/Língua Portuguesa e segundo o Decreto nº 5.626 de 2005, cria a obrigatoriedade de incluir LIBRAS como disciplina em alguns cursos universitários e intérpretes nos locais, como salas de aula, onde há Surdos no meio dos ouvintes.
Hoje, há poucos colégios particulares preparados para receber os Surdos onde tenham intérpretes de LIBRAS e professores bilíngues. Entretanto, a experiência do Colégio Luiza de Marillac trouxe muitas novidades para a Comunidade Surda, quando inclui LIBRAS como disciplina no currículo do 9º ano do Ensino Fundamental e em todas as séries do Ensino Médio, para que os alunos ouvintes aprendam LIBRAS, com um professor Surdo, como condição básica e de respeito na interação com a Comunidade Surda e com os colegas Surdos do colégio. Neste momento, há oito alunos Surdos matriculados no Ensino Médio. O colégio oferece curso livre de LIBRAS para professores, funcionários e toda a comunidade educativa, como pais e familiares, ministrado por um professor Surdo. Para nós Surdos, exemplos como o do Colégio Luiza de Marillac podem e devem ser seguidos pelas escolas brasileiras. Tenho muito orgulho de fazer parte deste projeto inovador. 

Tiago Codogno Bezerra é Surdo, Formado em Pedagogia, Letras-Libras e professor do Colégio Luiza de Marillac – Santana – São Paulo

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Existem razões para acreditar...



Há algum tempo atrás, uma propaganda de refrigerante na televisão me chamou atenção, acredito que a sua também. Crianças cantavam a música Whatever da banda de rock Inglesa Oasis, enquanto informações de um estudo comparativo sobre o mundo atual desfilavam sobre as imagens. A primeira comparação era “para cada pessoa dizendo que tudo vai piorar, cem casais planejam ter filhos”, em seguida, “para cada corrupto, há oito mil doadores de sangue”. Você se lembra dela, não é mesmo? Existem razões para nos preocuparmos com o presente e com o futuro, não há a menor dúvida. Por tudo que vemos acontecer no mundo, no nosso país, em nossa cidade, na vizinhança de casa, na escola de nossos filhos. Há pessoas que ainda são escravizadas e crianças obrigadas a trabalhar em carvoarias clandestinas. Na Amazônia Brasileira 312 km2 de florestas foram desmatadas, e isso somente no mês de junho deste ano. Recentemente, mãe e filho foram vítimas de balas perdidas nas ruas do Rio de Janeiro enquanto iam para a escola. Também existem razões para termos esperanças com o presente e com o futuro. Hoje, o Estado de São Paulo doa para outros estados o excedente de córneas captadas em seus hospitais, a expectativa de vida dos brasileiros chegou a 73,2 anos e na última década, a mortalidade infantil recuou de 30,7 para 22,5 em cada 1.000 crianças nascidas. Em nossa sociedade, os avanços são lentos - estando ainda distantes de índices de primeiro mundo - mas estão acontecendo. Vejam, somente em 1990 foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1996, após vinte e cinco anos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi atualizada. Ações de voluntariado existem desde sempre e apenas em 2001, por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), estabelece-se aquele ano como o ano internacional do voluntariado com o objetivo de aumentar o reconhecimento, a facilitação, a criação de redes e a promoção do serviço voluntário. Qual é a relação entre adolescentes, educação e voluntariado? Seria energia, condutor e catalizador, ou quem sabe agentes, meio e conteúdo? O que acontece quando esses “ingredientes” interagem? O resultado é “voluntariado educativo”! Uma proposta de voluntariado diferente daquele do adulto, formulada por dois sociólogos italianos onde a ação solidária preocupa-se com a formação dos jovens num espaço de ação e reflexão, de aprendizado sociopolítico, desenvolvimento de senso crítico, conscientização sobre direitos sociais e humanos, de respeito às diferenças e de vivência da solidariedade. 

Nesse espaço de ação e reflexão temos, juntos, o jovem passando pelo momento de construção de sua identidade, de crescimento humano e espiritual, de busca de sentido à própria vida e de valores nas suas atitudes e comportamentos, a escola, a partir de seus princípios educacionais, servindo como orientadora dos caminhos e escolhas desse jovem, oferecendo-lhe referências que facilitem a definição de seus próprios projetos e o voluntariado educativo como alternativa de busca, dentro de si mesmos, as suas melhores possibilidades. No vídeo do Instituto Brasil Voluntário – Faça Parte – com foco principal em ações de voluntariado educativo e idealizador do Selo Escola Solidária – há relato de um jovem aluno participante do voluntariado educativo que, no meu entendimento, ilustra o potencial e diferencial dessa proposta. Disse ele: “não sei o que seria de mim sem o trabalho voluntário; não dá para dizer, mas tão feliz como sou, eu não seria com certeza”. A maioria de nós vê o voluntário como alguém que ajuda a terceiros e, indiscutivelmente o ajuda, entretanto os benefícios que o jovem voluntário traz a si próprio são muito maiores. Maiores porque marcam, transformam, ficam. Apostar no voluntariado educativo e acreditar nessa nova tecnologia social é dever de todos nós educadores, pois oportunizaremos aos nossos jovens situações onde estes aparecem como atores principais em ações que não dizem respeito à sua própria existência, mas a problemas relativos ao bem comum – dentro da escola ou na sociedade – materializando-se nessas ações, tudo aquilo que dá sentido a nossa humanidade e que faz toda a diferença. O educador Celso Antunes escreveu certa vez, “O mundo não seria o mesmo se não tivessem existido pessoas que fizeram a diferença, pessoas extraordinárias”. Acreditar nos jovens e que estes possam se transformar em pessoas extraordinárias e que façam a diferença é um dos papéis da escola. Ah, sim, lembra aquela propaganda de refrigerante? Ela termina com a frase: “Existem razões para acreditar. Os bons são maioria”. Eu acredito! 

Prof. Luis Fernando Bronzatto é Licenciado em Educação Física, Pedagogo e Diretor do Colégio Luiza de Marillac – Santana – São Paulo.