quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Escola e a cultura do sedentarismo

A longevidade do ser humano vem sendo, há décadas, objeto de estudo da ciência. O grande objetivo é que o indivíduo possa viver cada vez mais e melhor.
A partir do conhecimento adquirido ao longo do tempo, ampliou-se a consciência de que essa sobrevida com qualidade depende, em grande parte, de um conjunto de ações adotadas pelo próprio indivíduo ao longo de sua vida.
Nesse sentido, sem sombra de dúvida, são fatores determinantes a alimentação e a chamada vida ativa.
Ocorre que, com o passar do tempo e a evolução tecnológica, o que se observa é exatamente o contrário, ou seja, as pessoas, de modo geral, vêm se alimentando de maneira cada vez mais inadequada e, mais que isso, levando uma vida cada vez mais inativa.  
Essa observação se torna mais preocupante quando se constata que esses fatores que, em última análise, são limitantes à vida, vêm atingindo o ser humano em faixas etárias cada vez menores.

Especificamente em relação à inatividade ou, em outras palavras, à vida sedentária, o que se observa é que já em idade escolar, um número considerável de pessoas começa a demonstrar pouco apreço pela atividade física. É bastante comum, em conversas com adolescentes no colégio, ouvirmos relatos de que passam boa parte do dia dormindo, ficando a prática de atividade física restrita às aulas de Educação Física, isto quando delas participam.
A constatação óbvia é a de que a menor solicitação de esforço físico proporcionada pela chamada vida moderna foi determinante para a mudança de estilo de vida das pessoas, ao longo do tempo, criando um fenômeno chamado “cultura do sedentarismo” o que adquiriu tal vulto e, em amplitude mundial, que passou a ser considerado pelos órgãos que estudam a saúde, em esfera nacional ou internacional (Organização Mundial de Saúde, por exemplo), como problema de saúde pública, chegando a receber o “título” de “mal do século” (século XX), pois, sabe-se que é fator determinante para o surgimento ou agravamento de doenças que afetam grandemente a qualidade de vida tais como o diabetes, a hipertensão arterial, doenças cardiovasculares (que foram as responsáveis pelo maior numero de mortes ocorridas no século XX, em âmbito mundial), a obesidade e alguns tipos de câncer.
Considerando esse problema (o sedentarismo) que, por suas características, atinge o ser humano cada vez mais precocemente e que, claramente, envolve risco futuro não só à qualidade de vida, mas, à própria vida, entendemos que, desde cedo se devem adotar ações no sentido de combater a chamada cultura do sedentarismo ou, em contraponto, enfatizar, valorizar a cultura do movimento.
A família tem papel fundamental, pois, sabe-se, por exemplo, que filhos de pais que possuem o hábito de praticar atividade física, têm uma maior probabilidade de também serem praticantes.
A escola, de maneira geral e a disciplina de Educação Física, de modo específico também devem se envolver nessa luta, adotando ações que levem os alunos a adquirirem consciência sobre a importância da prática do movimento na busca da longevidade e da qualidade de vida.
Torna-se fundamental que se atue no sentido de desenvolver e aprofundar, junto aos alunos, conhecimento sobre o movimento nas suas mais variadas vertentes culturais como as danças, as lutas, o esporte, a ginástica, a recreação, etc.
É essencial, também, que se utilize a prática de atividade física de maneira inclusiva, combatendo preconceitos, desenvolvendo o respeito às diferenças e assim, facilitando e desenvolvendo as relações humanas.
Mas, até em função de todos esses aspectos, é fundamental que a prática do movimento seja valorizada, não apenas nas aulas de educação física, mas, no ambiente e na rotina escolar como um todo, não, obviamente, com a perspectiva da busca de alto rendimento, mas, no sentido de que se incorpore à rotina da escola, a cultura do movimento e também, de que se amplie e se desenvolva o chamado repertório motor dos alunos.
Não se trata de preconizar o desenvolvimento motor como único objetivo da escola, através, sobretudo da disciplina de Educação Física, mas, que seja um deles, pois, é notório que se sinta prazer quando se executa algo que se entende fazer bem feito e, é também evidente que se torna mais fácil transformar em hábitos, práticas que tragam prazer.

Partindo destas premissas, ao trabalhar no sentido de ampliar e desenvolver o repertório motor dos alunos, e de incorporar a prática da atividade física à sua rotina diária a escola e, obviamente, a disciplina de Educação física estará criando condições favoráveis ao desenvolvimento da referida “cultura do movimento” instrumentalizando-os, assim, no sentido de incorporarem à sua vida, práticas que, por serem fontes de prazer, terão maior possibilidade de se tornarem hábito o que, em longo prazo, para além do prazer, irá proporcionar melhor qualidade de vida e maior perspectiva de longevidade.

Prof. Clovis Coltre é Graduado em Educação Física pela USP e professor do Colégio Luiza de Marillac - Santana - São Paulo

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Sim, nós podemos!

Se nossa existência tivesse um nome, o sobrenome certamente seria mudança. Heráclito, filósofo grego e pai da dialética, disse: “Nada há de permanente exceto a mudança”. Se para você essa afirmação está mais para uma sensação, creio então que em muito pouco tempo se tornará uma certeza, mesmo crendo na relatividade dela, pois essa mesma certeza sofrerá mudanças e assim, não será mais ela mesma. Não é como nos sentimos? Mudando a cada novo dia?
Na sociedade moderna a velocidade é a mola propulsora de todas as transformações e aquela que nos leva a agirmos, muitas vezes, como nossos ancestrais, movidos apenas pelo instinto de preservação deixando tudo ao nosso entorno menos importante, supérfluo tornando-nos seres individualistas. À margem de tudo aquilo que essa “sociedade veloz” impõe como prioritário temos tantas coisas, inclusive nossos atos, aqueles mesmos que deveriam nos diferenciar das outras espécies.

Somos “animais” sociais, nossa essência é a da convivência, mas podemos dizer com tranquilidade que hoje vivemos com o outro? Sabemos quem é ou nos importamos com ele? Atingimos a marca de sete bilhões de pessoas vivendo no planeta; pergunto: quem é esse tal de outro mesmo? Ele pode ser tanta gente, pode ser alguém que não conhecemos, nos encontramos ou sequer que venhamos a encontrar. Mas devemos nos preocupar com ele por uma simples razão, temos que conviver com “ele”.
Hoje, com uma pitada de exagero, nosso melhor amigo é aquele telefone esperto que faz tudo. Chegamos a lançar desafios com o objetivo das pessoas ficarem um determinado tempo sem usar a tecnologia - foi notícia em um portal da internet - mas devo admitir, é complicado vivermos sem ela. É, nosso modo de vida mudou! Na era do conhecimento, a tecnologia tem papel fundamental nos avanços da humanidade, entretanto, por outro lado, se não voltarmos nossa atenção a todo o conteúdo desse pacote e às letras miúdas desse contrato, corremos o risco de “mudarmos” cada vez mais, para bem distante daquilo que realmente somos.
Se nos aflige sentir tais coisas sobre nosso atual modo de vida, o que nos resta? Sentar e ver onde e como estaremos vivendo daqui a dez anos? Precisamos tentar, nos engajar no propósito de mudar essas relações. A antropóloga Norte-Americana Margaret Mead disse: “Nunca duvide de que um pequeno grupo de cidadãos conscientes e engajados consiga mudar o mundo. Na verdade, essa é a única via que conseguiu produzir mudanças até agora”.
Sim, nós podemos! O desejo de mudar nasce dentro da gente, esse é um dos grandes poderes que temos. Outro poder, o de acreditar nos torna capazes de fazermos acontecer além de nos fortalecer e nos manter firmes na busca das mudanças que queremos. Como disse Gandhi, “Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”.
Para passarmos de uma determinada situação social para outra melhor é necessário que as desejadas mudanças comecem em cada um de nós expandindo-se para nossa família, nossos vizinhos e assim de forma espiral para os demais elos de nossas relações.
A cultura de paz é um processo norteado pelo uso e fortalecimento das relações, do diálogo, da confiança e do respeito, dando-nos nova forma de pensar, fazer e viver. Fortalece as relações porque precisamos conviver, e o convívio nada mais é do que o viver no mesmo lugar com outra pessoa. Fortalece o diálogo, pois necessitamos nos comunicar para sermos compreendidos e compreender o outro, sendo este o mediador de conflitos e de superação dos problemas advindos das relações humanas, fazendo surgir novos espaços para a troca de experiências e compartilhamento dos conhecimentos acumulados por cada um de nós, gerando assim, novas competências aos envolvidos no processo.
Nas escolas, a cultura de paz tem espaço privilegiado, pois, alinhando-se às propostas pedagógicas fará de cada uma delas polos irradiadores das mudanças que desejamos ver no mundo.
“Joaquim, pergunta ao seu pai Henrique: Você precisa deixar a torneira aberta enquanto se barbeia? Na aula de ciências a professora me disse que está faltando água em muitas partes do mundo e que há mais de 1 bilhão de pessoas em dificuldades por falta de água doce. Ela também disse que um banho demorado gasta 95 a 180 litros de água, e que escovar os dentes com a torneira aberta consome 25 litros. Quanto você já gastou hoje, hein pai?”  A história mostra como a escola teve um papel fundamental para que Joaquim confrontasse os hábitos do pai demonstrando novos conceitos, habilidades e valores, tornando-se capaz de pensar nos outros e não somente, em suas necessidades individuais.
Esses outros para os quais estão voltados os olhares do Joaquim têm maneiras peculiares de entender, olhar e estar no planeta, muitas vezes diferente das dele e está aí, na diversidade, a possibilidade de crescimento pessoal, de mudarmos do modelo mental enraizado na sociedade de individualismo para um modelo de cultura colaborativa. Trata-se de propormos a nós mesmos, novos hábitos comportamentais e de nos colocarmos no mundo de forma diferente.
Mudar, apesar de fazer parte de nossa existência, não é uma tarefa fácil, mas se continuarmos parados, sem pensarmos ou agirmos, estaremos indo contra tudo que nos faz diferentes.  Que tal acreditarmos e vivermos a cada novo dia buscando um melhor desenvolvimento como pessoas humanas, seres sociais e que acreditam na cultura de paz.
Nós podemos, sim!

Prof. Luis Fernando Bronzatto é Licenciado em Educação Física, Pedagogo e Diretor do Colégio Luiza de Marillac – Santana – São Paulo.